quinta-feira, 6 de março de 2014

Da prematuridade à eclosão duma sombra

(...)

Hoje a noite marca-se vazia; profundo e ressoante apenas o silêncio que já quase inexiste.
Se a noite carece de amor, por amor ou por dor permanece insólita e fria. Carente de poesia. Carente de mundo e cansada de vida mal vivida. Não vazia, exaurida.

Hoje a noite transfigura-se noutra, menos amarga, dum calor quase acolhedor. Inexpressível e incompreendida, mas agora presente. Hoje a noite toma a forma duma dor que não existe, que não se permite. A forma da dilaceração?

Na noite se apresenta a sombra pouco severa dum dilacerado sem forma. Divagante, pouco errante, amante e vivente. Novamente presente e agora sempre um passo à frente. Sem caos, sem esperança, sem frustração: um soberbo indomado.

Hoje a noite é outra. É das estrelas amarelas e incandescentes, insuficientemente distantes, brilhantes sem o querer de quem as vê. Hoje o vento noturno é genuíno e faz balançar as folhas do pinheiro e o coração de um homem solitário. Mas não sozinho, sem permissão. A solidão exige algo que não se configura já...

Hoje, a noite jaz no aguardo desesperançado do inexistente.

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