Há coisas que passam pela cabeça
dos homens capazes de fazê-los ficarem acordados por dias. Há coisas, do mesmo
tipo, que os impedem de tirar seu cochilo vespertino. São tantos os
acontecimentos e sentimentos que muitas vezes divagações são necessárias. A
esse fenômeno os filósofos dão o nome de catarse, o ato de vomitar ao mundo
todas as indecências, o descontrole, os desentendimentos interiores.
Dilacerações.
Que se passa na cabeça de um
homem quando pensa em seu futuro? Quando pensa em se mudar, em seus amigos,
família, namorada, faculdade. Quando pensa no que fez e no que poderá fazer,
quando pensa nos bens que o cerca: o que levará consigo e o que deixará para
trás? Não tem nada senão suas lembranças e estes pensamentos desordenados que o
rodeiam.
Que se passa na cabeça de um
homem quando tenta distinguir o essencial do supérfluo, o eterno do passageiro,
o bom do ruim? E em que estado de ânimo entra um homem ao se deparar com a
fragilidade e a pouca sobriedade dos critérios que utiliza para avaliar sua
vida?
Este: este é o homem dilacerado.
O homem que não bate o martelo, que não afirma o dever, que não sabe o certo. O
homem que vive simplesmente, que vai sem saber um rumo certo, mas ainda vai. Se
move: inconstante. Um andarilho entre todas as suas experiências e todas as
suas vivências. Não seria ele uma criança incapaz de compreender o mundo e que
precisa de tutores? Ou talvez um lógico frustrado com a ilogicidade do
mundo, das pessoas, da vida? "Somos capazes de dizer amor e fazer amor sem
amor", pensa; "recebemos promessas de amor que na verdade são
contratos". Ah, o amor, sempre ele: uma dessas coisas caóticas que
perturbam os homens e que lhes afasta o sono.
Mas o caos não é culpado do amor
e do não-amor. O caos existe no espírito inocente, que não entende. Que vive,
que sente, que chora e que morre, mas que não entende. Tenta, divaga, desiste e
volta a deitar. Pensa, perde o sono e volta a escrever. Sem razão, sem ordem,
sem nexo. Um absurdo contraditório redundante a vida destes homens dilacerados.
Destes homens sem critérios e sem chão, destes seres sensíveis e, ao mesmo
tempo, indiferentes. Destes sem juízos de valor, céticos sem opção, descrentes
por uma consequência da natureza. Para estes descrentes, dilacerados, imaturos,
andarilhos; a estas crianças, sonâmbulas, logicamente frustradas, frágeis e
pouco sóbrias não há chão, mas como que apenas um fio capaz de conectá-la
novamente à sua existência e de dar sentido à sua vida. E é a este fio a que
podem agarrar-se: serão livres dos dois modos. Que possuem verdadeiramente
senão suas memórias? Quem pode abdicar de suas vivências?
Texto intrigante, Danilo. Me fez pensar no peso da existência e na fragilidade do homem.
ResponderExcluirPois é, Greice. Escrevi esse texto quando o peso da existência que recaia sob as meus ombros estava quase insuportável - não no sentido de me conduzir ao suicídio, mas a uma estagnação, a um comodismo na minha vida pessoal (você sabe do que estou falando). E sobre a fragilidade, ainda não pensei exatamente sobre isso, mas acredito que, no meu caso, tenha algo a ver com a carência de uma "terceira perna", ou melhor, de um alicerce firme sobre o qual eu possa depositar as minhas crenças e chamá-las de verdadeiras. Falo algo sobre isso aqui:
ResponderExcluirhttp://paradoxocaretta.blogspot.com.br/2013/12/sobre-os-pontos-arquimedianos-que.html
Parece-me que estas fragilidades é que nos (me) conduzem àquilo que chamo de dilaceração interna...