sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

O Caos Vespertino

Há coisas que passam pela cabeça dos homens capazes de fazê-los ficarem acordados por dias. Há coisas, do mesmo tipo, que os impedem de tirar seu cochilo vespertino. São tantos os acontecimentos e sentimentos que muitas vezes divagações são necessárias. A esse fenômeno os filósofos dão o nome de catarse, o ato de vomitar ao mundo todas as indecências, o descontrole, os desentendimentos interiores. Dilacerações.

Que se passa na cabeça de um homem quando pensa em seu futuro? Quando pensa em se mudar, em seus amigos, família, namorada, faculdade. Quando pensa no que fez e no que poderá fazer, quando pensa nos bens que o cerca: o que levará consigo e o que deixará para trás? Não tem nada senão suas lembranças e estes pensamentos desordenados que o rodeiam.

Que se passa na cabeça de um homem quando tenta distinguir o essencial do supérfluo, o eterno do passageiro, o bom do ruim? E em que estado de ânimo entra um homem ao se deparar com a fragilidade e a pouca sobriedade dos critérios que utiliza para avaliar sua vida?

Este: este é o homem dilacerado. O homem que não bate o martelo, que não afirma o dever, que não sabe o certo. O homem que vive simplesmente, que vai sem saber um rumo certo, mas ainda vai. Se move: inconstante. Um andarilho entre todas as suas experiências e todas as suas vivências. Não seria ele uma criança incapaz de compreender o mundo e que precisa de tutores? Ou talvez um lógico frustrado com a  ilogicidade do mundo, das pessoas, da vida? "Somos capazes de dizer amor e fazer amor sem amor", pensa; "recebemos promessas de amor que na verdade são contratos". Ah, o amor, sempre ele: uma dessas coisas caóticas que perturbam os homens e que lhes afasta o sono.
  
Mas o caos não é culpado do amor e do não-amor. O caos existe no espírito inocente, que não entende. Que vive, que sente, que chora e que morre, mas que não entende. Tenta, divaga, desiste e volta a deitar. Pensa, perde o sono e volta a escrever. Sem razão, sem ordem, sem nexo. Um absurdo contraditório redundante a vida destes homens dilacerados. Destes homens sem critérios e sem chão, destes seres sensíveis e, ao mesmo tempo, indiferentes. Destes sem juízos de valor, céticos sem opção, descrentes por uma consequência da natureza. Para estes descrentes, dilacerados, imaturos, andarilhos; a estas crianças, sonâmbulas, logicamente frustradas, frágeis e pouco sóbrias não há chão, mas como que apenas um fio capaz de conectá-la novamente à sua existência e de dar sentido à sua vida. E é a este fio a que podem agarrar-se: serão livres dos dois modos. Que possuem verdadeiramente senão suas memórias? Quem pode abdicar de suas vivências?


2 comentários:

  1. Texto intrigante, Danilo. Me fez pensar no peso da existência e na fragilidade do homem.

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  2. Pois é, Greice. Escrevi esse texto quando o peso da existência que recaia sob as meus ombros estava quase insuportável - não no sentido de me conduzir ao suicídio, mas a uma estagnação, a um comodismo na minha vida pessoal (você sabe do que estou falando). E sobre a fragilidade, ainda não pensei exatamente sobre isso, mas acredito que, no meu caso, tenha algo a ver com a carência de uma "terceira perna", ou melhor, de um alicerce firme sobre o qual eu possa depositar as minhas crenças e chamá-las de verdadeiras. Falo algo sobre isso aqui:
    http://paradoxocaretta.blogspot.com.br/2013/12/sobre-os-pontos-arquimedianos-que.html

    Parece-me que estas fragilidades é que nos (me) conduzem àquilo que chamo de dilaceração interna...

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