Eu, como pessoa, tenho uma visão limitada do mundo.
Essa afirmação não é tão assustadora, afinal ouvi falar de uns caranguejos aí que enxergam mais cores que eu, incluindo a radiação emitida pelos corpos e outras imagens que não sei descrever bem por não conhecê-las e não enxergá-las.
De qualquer modo, acredito que minha sensibilidade seja limitada. Tudo o que recebo passa por esses filtros dos sentidos e, de alguma maneira, formam imagens, sons, gostos, conexões, frases e formas na minha mente.
O curioso é que, mesmo ciente desse processo limitado de criação de representações mentais, eu, enquanto pessoa, ainda busco o ilimitado, o universal, o quid, o ser, o eterno.
Eu quero ver o oco.
Essa busca pode soar vã, mas é cheia de sentido e necessária para a existência.
Faço várias suposições.
Suponho que a ciência é a sistematização de conhecimentos com alto grau de confiabilidade.
Suponho que existem outras pessoas e objetos no mundo com exceção daqueles representados na minha mente.
Sinceramente, eu acho saudável acreditar que existem pessoas e objetos no mundo. Acho saudável acreditar que existem coisas fora de mim, acho saudável acreditar que isso tudo não está saindo de dentro de minha mente maluca, que o mundo não é representado diante de meus olhos e de meus outros sentidos como um filme é apresentado numa tela de cinema. Bem, algumas vezes eu duvido disso e duvido também da minha sanidade. Espero seguir o ciclo da vida feliz e morrer confortável.
Se eu estiver certo nessas suposições e estiver certo ao acreditar que os objetos externos perturbam meus sentidos de alguma forma e são causa das representações mentais que tenho, então talvez eu também esteja certo em acreditar na limitação dessas representações (por causa do caso do caranguejo lá em cima). Assim, tudo o que tenho é uma visão limitada que não aspira nada senão o infinito.
Não consigo explicar a necessidade dessa busca pelo incondicional, infinito, imutável, verdade, ser, universal, oco, quid. Se é uma disposição natural de minha existência enquanto ser humano, eu gostaria de me conhecer o suficiente para entender sob quais aspectos essa disposição se apresenta.
Parece-me mais confortável, entretanto, acreditar nessas coisas, além mesmo de supor que existem. Parece-me confortável acreditar na ciência como conhecimento certo, seguro e absoluto. Parece-me confortável acreditar na religião como conhecimento certo, seguro e absoluto. Parece-me certo acreditar numa visãozinha limitada, disforme, distorcida e chula dessa realidade como a verdade absoluta.
Não sei porque, isso talvez faça com que encostemos a cabeça no travesseiro e tenhamos uma noite de sono mais tranquila, ou talvez evite que apertemos o OFF e encerremos o filme.
Se é assim, então, o conteúdo de minha mente é fruto de uma junção entre as representações advindas do externo e dos dados já presentes em minha memória.
Entretanto, mas, porém, todavia
Eu não tenho consciência de tudo o que está dentro de minha mente. Tanta coisa perturba e tanta coisa já perturbou meus sentidos que eu me sinto, no sentido pouco amplo da palavra, perturbado. Essa perturbação é passageira: vem, vai, incomoda, às vezes parece insuportável, às vezes acho ridícula e às vezes nem lembro que existe.
A infinidade de representações que já passaram na minha mente é irrepresentável e insondável, bem como a sua influência nas novas representações mentais que se seguirão e nas minhas ações, dentre elas na minha escrita e fala.
Tudo é fruto de uma perspectiva composta de elementos insondáveis, com certo grau de complexidade e em boa parte ininteligíveis.
Curioso é achar que isso é universal, eterno, imutável e compartilhado por todas as outras mentes que eu suponho existir no mesmo mundo que eu.
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