sexta-feira, 1 de julho de 2011

Maturidade e maioridade

Kant diz:
"É tão cômodo ser menor. Se tenho um livro que faz as vezes de meu entendimento, um diretor espiritual que por mim tem consciência, um médico que por mim decide a respeito de minha dieta, etc., então não preciso esforçar-me eu mesmo. Não tenho necessidade de pensar, quando posso simplesmente pagar; outros se encarregarão em meu lugar dos negócios desagradáveis." E os tutores, "depois de terem primeiramente embrutecido seu gado doméstico e preservado cuidadosamente estas tranqüilas criaturas a fim de não ousarem dar um passo fora do carrinho para aprender a andar, no qual as encerraram, mostram-lhes, em seguida, o perigo que as ameaça se tentarem andar sozinhas. Ora, este perigo na verdade não é tão grande, pois aprenderiam muito bem a andar finalmente, depois de algumas quedas. Basta um exemplo deste tipo para tornar tímido o indivíduo e atemorizá-lo em geral para não fazer outras tentativas no futuro." Trecho do texto Resposta à Pergunta: Que é esclarecimento?
Este pequeno trecho nos é útil para delimitar um tema que me propus a analisar: afinal, o que é maturidade? O que me permite taxar um indivíduo de maduro ou não? Há alguma relação entre a maturidade e a maioridade (ou idade adulta)?
É comum ouvirmos aquela conversinha de psicólogos e pedagogos que meninas amadurecem mais rápido que os meninos. Porque elas perdem o gosto pelas bonecas mais cedo, e de repente começam a achar tudo que os garotos da classe fazem como "infantil, tonto, besta e sem graça". Talvez haja alguma explicação científica para isso, mas o ponto é que ao meu ver, isso não é maturidade. Minha defesa começa sugerindo que nos acostumamos, no dia-a-dia, a empregar palavras de forma errônea, e maturidade é uma delas. Quando vemos uma criança saindo da infância e entrando na puberdade dizemos que está amadurecendo, mas não necessariamente é o que ocorre. Está crescendo, hormônios aflorando, mas ficando madura?
Se maturidade for entendida (tal como eu estou inclinado a acreditar) estritamente como uma capacidade de responder pelos seus atos, então ao menos as meninas que vemos nos seriados da televisão estão longe de serem maduras, visto que basta alguma adversidade se aproximar que elas correm para a saia da mamãe. Além do mais, a inconsequência é comum à maioria dos jovens, mas não à todos.
Chega desse converseiro mole. O ponto é que estamos inclinados (nem todos) a taxar uma pessoa de 30 anos que joga vídeo-game ou brinca no autorama de imatura, ou a acusar uma garota da faculdade que gosta de usar preto de ainda estar na adolescência, PORQUE ISSO NÃO É COISA DE ADULTO. Vejam que curioso, nosso senso comum diz que uma pessoa madura é aquela que faz o que normalmente uma pessoa adulta faz: trabalha, paga contas, é casada ou está em idade de se casar, trocou os carrinhos por um chopp com os amigos e as bonecas por livros do Dan Brown. Se veste de acordo com o que os adultos em geral vestem, vai para onde os adultos em geral vão, faz o que os adultos em geral fazem. Mas tem o outro lado desse "em geral", e se eu não vestir, ir ou fazer o que os outros "em geral" fazem, isso NÃO me dá a autorização para me taxar de imaturo.
Se você algum dia pensou em como seria bom poder ser criança por mais um dia, pra fazer o que você tem vontade de fazer (jogar vídeo-game, brincar de esconde-esconde, que é o que as crianças fazem) sem ser taxado de infantil ou IMATURO, eu sei bem como você se sente. Claro, a idade vai nos mostrando alguns "brinquedos" mais legais que carrinhos e bonecas, o que não quer dizer que tenhamos perdido o gosto pelos antigos. E sinceramente, gosto mais das pessoas que não seguem esse comportamento "geral", porque me dá impressão de sinceridade e espontaneidade.
Por fim, assinalo que uma pessoa na maioridade (seja penal [18+], seja idade adulta) não é necessariamente uma pessoa madura, tal como uma pessoa madura não está necessariamente na maioridade. Porque nada impede (ou nada deveria impedir) que uma garota de 16 anos, tal como vi no episódio 13 da 2ª temporada de House, assuma que foi ela que seduziu e fez sexo com o pai por interesses próprios, e não ele que a molestou, ou que uma pessoa adulta seja ainda inocente a ponto de não reconhecer a culpa do seus atos, mas pô-la nas pessoas ou na circunstância em que vive.
Partindo desse ponto de vista, não se preocupe se você se veste de preto, joga vídeo-game ou bolinha de gude, faz brincadeiras com os outros, é fã de história em quadrinhos ou gosta de subir na árvore. Se você é capaz de assumir a responsabilidade disso, você é uma pessoa madura. E livre.

Um comentário:

  1. Alan Roberto Candido3 de julho de 2011 às 19:32

    Segundo o dicionário maduro é sinônimo de desenvolvido, que também significa superior. "Ser superior" nos núcleos sociais não restritos, que "não segrega as pessoas", como a escola, o trabalho, o templo de cada religião por exemplo, é seguir as diretrizes de cada meio. O que é diferente é visto como hostil. O citado homem de 30 anos que joga video-game e não consome bebidas alcólias é considerado infantil e imaturo; mesmo sendo um empresário de sucesso e tenha um filho de 5 anos, que através da boa educação, prefere comer frutas do que doces. Diante do exposto, ser maduro é saber obedecer regras. Outra coisa que pode ser extraída desta análise é que felicidade de uma pessoa "normal" depende da aprovação dos membros de seu meio.

    ResponderExcluir