Havia o escrito numa garrafa de cerveja: "não é o bastante ver que um jardim é bonito sem ter que acreditar também que há fadas escondidas nele?"
O Ateu:
— Não existem fadas no jardim. Não as vejo, não as toco, não as sinto.
O Crente¹:
— Existem fadas no jardim. Não as vejo, mas elas falam comigo, eu as sinto e ouço suas vozes dentro do meu coração. Elas me tocam e eu sou abençoado por isso.
O Agnóstico:
— Não as vejo, não as toco, não as sinto. Elas não falam comigo, não me sinto abençoado. Mas há um limite para o que posso ver, ouvir, tocar, sentir. E sempre me restará a dúvida se há algo realmente por detrás desse limite.
E vem Descartes, meio bebâdo e gritando:
— Essa cerveja não existe e eu vou te provar!
E todos viveram felizes para sempre.
¹adj. e s., m. e f. Que, ou pessoa que tem fé religiosa. 2. Sectário (a) de uma religião.
Que minhas palavras não nasçam nunca do esforço, mas da necessidade, e que em seu sangue corra a sinceridade e a espontaneidade deste que escreve.
sexta-feira, 22 de julho de 2011
sexta-feira, 8 de julho de 2011
Laicismo e Ciência
Algumas pessoas pensam que o laicismo prega exatamente o contrário do que a moral religiosa prega. E não é bem assim: o 5º mandamento diz "não matarás"; o Estado laico diz "não matarás". O que muda é a motivação exigida para tal ação, bem como a fundamentação de que quem mata deve ser penalizado.
Assim sendo, num debate jurídico-político-filosófico, não são aceitos argumentos como "porque Deus ao criar o homem..." ou "Exôdo 34, 28". Se discutirmos questões como aborto, união homo-afetiva, pesquisa células tronco ou referendo sobre armas, qualquer argumento dessa origem, mesmo que mascarado, é desqualificado.
É óbvio que não é isso que ocorre, visto que (1) as igrejas em geral ainda têm (e querem) uma participação política na sociedade, e (2) os valores pregados por elas são de tal forma incutidos na mente das pessoas que estas não conseguem separar entendimento moral religioso de entendimento moral comum. Além do que (3) (tal como vimos na última eleição) dizer ser a favor do aborto é o mesmo que pedir pra não ser votado.
Mas e quanto à ciência? Habermas propõe um debate interessante sobre a influência da ciência na vida das pessoas. Tais avanços são tão significativos a ponto de permitir a "fabricação" de um super-bebê. Por alteração genética, não teria os defeitos que nós temos. Em outra palavras, seu filho estaria livre de alergias, rinite, sinusite, propensão ao diabetes, ao câncer, a problemas cardíacos, etc. Se você fosse um desses bebês, ia achar ruim? Eu ia me orgulhar e teria mais motivos concretos para amar meus pais. A saúde é um bem desejável por si mesmo, e qualquer pessoa que negue isso tem algum problema. Outra coisa é a capacidade de escolher o sexo do bebê. Eu sinceramente não escolheria porque gosto dessa aleatoriedade, mas não vejo problema na legalização disso. Tirando que isso teria sérias consequências na taxa de natalidade, ainda vejo, tal como Rawls, que "cada pessoa é dona de uma inviolabilidade que nem o bem-estar comum da sociedade pode anular". Essa inviolabilidade é da propriedade do indivíduo, que corresponde a sua vida, sua LIBERDADE e seus bens.
Uma outra questão, mais polêmica e interessante, é sobre a pesquisa com células-tronco. Com tais células é possível curar cânceres, paralisias, doenças de Parkinson, Alzheimer, etc. E o motivo de serem proibidas é a suposta morte do embrião para a cura de outra pessoa. Pergunto: e se fosse um clone? Um embrião criado em laboratório com a única finalidade de fornecer tais células para a cura. Até onde sei, o embrião pode fornecer as células com 3 semanas. Nesse período, ainda não houve a separação entre ectoderme, mesoderme e endoderme, não havendo, portanto, tecido nervoso. Há quem diga que ainda não é uma vida, ou que mesmo sendo, não possui ainda um valor intrínseco.
Não tenho certeza do que penso, mas estou inclinado a crer que tais pesquisas e facilidades devem ser permitidas. Se você é contra, não faça uso: tal como os testemunhas e Jeová são contra a doação de sangue, os católicos contra a legalidade do porte de armas e os evangélicos contra a união homo-afetiva. Simples, não faça, não use, não seja. Mas não venha querer que o que você pensa ou crê deve ser estendido a todas as pessoas como uma lei universal.
Ps.: Gostaria, sinceramente, de ver argumentos contra e a favor do que eu disse. Se você é contra as pesquisas com células tronco, ou contra a alteração genética de bebês, expresse o que você pensa. E mesmo se você é a favor, corrobore seu pensamento. Tal debate só tende a exercitar seu senso crítico e sua habilidade argumentativa, além de enriquecer o blog.
sexta-feira, 1 de julho de 2011
Maturidade e maioridade
Kant diz:
"É tão cômodo ser menor. Se tenho um livro que faz as vezes de meu entendimento, um diretor espiritual que por mim tem consciência, um médico que por mim decide a respeito de minha dieta, etc., então não preciso esforçar-me eu mesmo. Não tenho necessidade de pensar, quando posso simplesmente pagar; outros se encarregarão em meu lugar dos negócios desagradáveis." E os tutores, "depois de terem primeiramente embrutecido seu gado doméstico e preservado cuidadosamente estas tranqüilas criaturas a fim de não ousarem dar um passo fora do carrinho para aprender a andar, no qual as encerraram, mostram-lhes, em seguida, o perigo que as ameaça se tentarem andar sozinhas. Ora, este perigo na verdade não é tão grande, pois aprenderiam muito bem a andar finalmente, depois de algumas quedas. Basta um exemplo deste tipo para tornar tímido o indivíduo e atemorizá-lo em geral para não fazer outras tentativas no futuro." Trecho do texto Resposta à Pergunta: Que é esclarecimento?
Este pequeno trecho nos é útil para delimitar um tema que me propus a analisar: afinal, o que é maturidade? O que me permite taxar um indivíduo de maduro ou não? Há alguma relação entre a maturidade e a maioridade (ou idade adulta)?
É comum ouvirmos aquela conversinha de psicólogos e pedagogos que meninas amadurecem mais rápido que os meninos. Porque elas perdem o gosto pelas bonecas mais cedo, e de repente começam a achar tudo que os garotos da classe fazem como "infantil, tonto, besta e sem graça". Talvez haja alguma explicação científica para isso, mas o ponto é que ao meu ver, isso não é maturidade. Minha defesa começa sugerindo que nos acostumamos, no dia-a-dia, a empregar palavras de forma errônea, e maturidade é uma delas. Quando vemos uma criança saindo da infância e entrando na puberdade dizemos que está amadurecendo, mas não necessariamente é o que ocorre. Está crescendo, hormônios aflorando, mas ficando madura?
Se maturidade for entendida (tal como eu estou inclinado a acreditar) estritamente como uma capacidade de responder pelos seus atos, então ao menos as meninas que vemos nos seriados da televisão estão longe de serem maduras, visto que basta alguma adversidade se aproximar que elas correm para a saia da mamãe. Além do mais, a inconsequência é comum à maioria dos jovens, mas não à todos.
Chega desse converseiro mole. O ponto é que estamos inclinados (nem todos) a taxar uma pessoa de 30 anos que joga vídeo-game ou brinca no autorama de imatura, ou a acusar uma garota da faculdade que gosta de usar preto de ainda estar na adolescência, PORQUE ISSO NÃO É COISA DE ADULTO. Vejam que curioso, nosso senso comum diz que uma pessoa madura é aquela que faz o que normalmente uma pessoa adulta faz: trabalha, paga contas, é casada ou está em idade de se casar, trocou os carrinhos por um chopp com os amigos e as bonecas por livros do Dan Brown. Se veste de acordo com o que os adultos em geral vestem, vai para onde os adultos em geral vão, faz o que os adultos em geral fazem. Mas tem o outro lado desse "em geral", e se eu não vestir, ir ou fazer o que os outros "em geral" fazem, isso NÃO me dá a autorização para me taxar de imaturo.
Se você algum dia pensou em como seria bom poder ser criança por mais um dia, pra fazer o que você tem vontade de fazer (jogar vídeo-game, brincar de esconde-esconde, que é o que as crianças fazem) sem ser taxado de infantil ou IMATURO, eu sei bem como você se sente. Claro, a idade vai nos mostrando alguns "brinquedos" mais legais que carrinhos e bonecas, o que não quer dizer que tenhamos perdido o gosto pelos antigos. E sinceramente, gosto mais das pessoas que não seguem esse comportamento "geral", porque me dá impressão de sinceridade e espontaneidade.
Por fim, assinalo que uma pessoa na maioridade (seja penal [18+], seja idade adulta) não é necessariamente uma pessoa madura, tal como uma pessoa madura não está necessariamente na maioridade. Porque nada impede (ou nada deveria impedir) que uma garota de 16 anos, tal como vi no episódio 13 da 2ª temporada de House, assuma que foi ela que seduziu e fez sexo com o pai por interesses próprios, e não ele que a molestou, ou que uma pessoa adulta seja ainda inocente a ponto de não reconhecer a culpa do seus atos, mas pô-la nas pessoas ou na circunstância em que vive.
Partindo desse ponto de vista, não se preocupe se você se veste de preto, joga vídeo-game ou bolinha de gude, faz brincadeiras com os outros, é fã de história em quadrinhos ou gosta de subir na árvore. Se você é capaz de assumir a responsabilidade disso, você é uma pessoa madura. E livre.
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