sábado, 21 de maio de 2011

Epistemologia e o preonceito com a Filosofia

"Porque esse copo de cerveja, NÃO é um copo de cerveja e eu vou te provar!!!!"
Esse é o sarro que alguns amigos meus tiram depois de eu tentar explicar para eles o ceticismo metódico cartesiano. Também, eu mereço: conversar sobre Descartes na mesa de um bar, sábado a tarde bebendo cerveja em Londrina. Disso só duas coisas podem se inferir: ou é um papo entre filosofantes (pessoas estranhas), ou alguém vai ser zoado por falar tanta asneira, e nesse caso eu fui a vítima.
O que poucos sabem é que a filosofia não se resume à epistemologia e a questões metafísicas. Entenda-se por objetos metafísicos aqueles que não encontramos no mundo, apesar usarmos termos para denominá-los. Deus, alma, liberdade, justiça, belo, bem, etc. Raras exceções, ninguém encontra Deus na esquina e acena com a mão, ou liga pra justiça pra marcar uma balada. E a epistemologia é o ramo da filosofia que trata do conhecimento do mundo. Já disse há alguns amigos e, embora eu possa me arrepender do que direi agora, é o que sinto no momento: se não fosse pela ética, lógica e filosofia política, eu não faria filosofia.¹
Mas sem me desviar do objetivo inicialmente proposto, lançarei as bases para fundamentar que é a epistemologia (principalmente) a culpada por nós, estudantes de filosofia, sermos taxados de malucos. Vamos pegar o exemplo de Descartes. Ele próprio diz nas Meditações que não podemos ter certeza de nenhum conhecimento das coisas do mundo. Isso porque nossos sentidos nos enganam, não podemos ter certeza se estamos dormindo ou despertos e ainda, não temos certeza se não existe um Deus maligno, sacana e que se deleita em nos enganar. Disso resulta que é possível que os objetos exteriores a nós não existam. Esse monitor, esse teclado, suas mãos, pés, olhos, nada. Nem mesmo o copo de cerveja que eu falei lá em cima. A primeira certeza que temos é de que somos seres pensantes, e como nenhum Deus pode nos enganar sobre isso, então "penso, logo existo".
Que lindas palavras não é mesmo? Embora essa dúvida de Descartes seja passageira e necessária na sua filosofia, é suficiente para desmotivar qualquer pessoa, especialmente alunos do ensino médio, e pra incutir na mente deles uma segunda certeza. Se a primeira é "penso, logo existo", a segunda é "o filósofo Descartes é doidão".
E pra não dizerem que estou generalizando, vou falar de outro filósofo queridinho por muitas pessoas (inclusive por mim). Platão, fera. Vocês sabem que pra Platão os objetos que existem no mundo são "imperfeitos", mera cópia de uma idéia pré-existente no mundo das idéias. E a alma, antes de se encarnar nalgum corpo, se encontrava em contato direto com essas idéias, que representam a verdade. Ao encarnar, a alma se esquece da verdade e passa, através do corpo, a ter contato sensível com objetos que são cópia das idéias. E pra lembrar-se da verdade, somente pela reminiscência. Alguém poderia dizer: mas professor, então é só eu fumar um baseado que eu vou ter acesso às idéias?
Vai, vai sim. Terceira e quarta certeza: "o filósofo Platão é doidão" e "os filosófos são doidos". Acho que ninguém discordaria muito do que eu disse, porque é assim que as coisas acontecem. E eu nem parei pra falar de Leibniz e dos pré-socráticos, que parecem doidões até pra mim. No entanto, não espero não ser refutado, especialmente pelos meus colegas da filosofia. Mas eu peço, por fim, aos não-filosofantes que abandonem esse preconceito. Embora eu acredite que ele é justificável, há muito mais na filosofia além de doidices. A epistemologia têm um objetivo que é, ao meu leigo ver, o de mostrar até onde pode ir o nosso conhecimento. Embora eu ainda esteja na expectativa pra ver como isso é possível...


¹ Sim, eu me arrependi de ter dito isso. Os olhos só enxergam até onde alcançam, e o campo visual de um aluno (eu) de 2º ano de graduação da UEL não é lá muito amplo...

2 comentários:

  1. bom post cara...a próxima vc comenta do banquinho...
    flw

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