Uma das tarefas da filosofia analítica, uma corrente
filosófica da contemporaneidade, é a separação entre os discursos
significativos e os discursos não significativos. Em outras palavras, o que os
filósofos analíticos queriam era esclarecer a diferença entre as ciências
naturais e outras áreas do conhecimento, como a filosofia, a teologia, a
literatura e assim por diante.
Carnap foi um dos teóricos mais importantes e radicais desta
corrente, e que levou mais a sério esta tentativa de separar discursos significativos
de discursos não significativos ou discursos sem sentido.
Em resumo, a proposta dele é o seguinte:
Pegue uma sentença qualquer, seja uma sentença das ciências naturais, da matemática, da filosofia, da literatura ou qualquer que seja.
1) Identifique os nomes (próprios e comuns) que ocorrem nessa
sentença e veja se a definição desses nomes está direta ou indiretamente
relacionada à experiência.
Explico.
Quando se diz: Esta mesa é redonda, todo metal quando
aquecido se dilata, artrópodes possuem extremidades articuladas, etc etc etc, a
atribuição do valor verdade ou falsidade de cada proposição é possível
simplesmente confrontando o pensamento expresso por cada sentença com os fatos
do mundo empírico.
Sendo mais direto:
· pegue
a porra da mesa
· olhe
se a porra da mesa é redonda ou não é.
· Se
for, então (V) para "a porra da mesa é redonda"
· caso
contrário, (F) para "a porra da mesa é redonda"
· Se
o predicado aplicado à mesa em questão for um predicado não verificável
empiricamente, tipo "a mesa nadifica", "a mesa é", "a
mesa estuda em Marte quando nenhum ser humano está à sua volta", então as
sentenças nas quais esses predicados aparecem não são significativas.
Há outros pormenores do critério, mas são mais simples e
enunciarei brevemente:
2) A sentença deve estar OK do ponto de vista sintático,
conforme a lógica clássica e a linguagem na qual ela foi construída, e
3) A sentença não deve incorrer no erro de tipos.
Por
exemplo: O Pablo é um número primo.
Estou mastigando e possivelmente expondo a coisa de maneira
mais "chula" do que ela é. Mas embora pareça trivial, esse critério
de significado rejeita que se possa fazer conhecimento com diferentes tipos de
proposições.
As proposições da matemática e da lógica são sem significado,
porque não derivam da experiência.
As proposições da metafísica são sem significado, porque não
derivam da experiência.
As proposições da teologia, da ética, da arte, etc. não são
significativas e, portanto, não podem ter um valor de verdade ou de falsidade.
Há ressalvas para a lógica e para a matemática que não
citarei aqui.
Chegando no assunto de Deus:
"Outro exemplo é a palavra "Deus". Devemos
aqui, exceto as variações de seu uso em cada domínio, distinguir o uso
linguístico em três diferentes contextos ou épocas históricas que, no entanto,
sobreporam-se temporariamente. Em seu uso mitológico, a palavra tem um
significado claro. Ela, ou palavras paralelas em outras linguagens, é algumas
vezes usada para denotar seres físicos que são entronados no Monte Olímpo, no
Céu ou no Hades, e que são dotados de poder, sabedoria, bondade e alegria em
maior ou menor grau. Algumas vezes a palavra também se refere a seres
espirituais que, de fato, não possuem corpos humanos, mas se manifestam de
algum modo em coisas ou processos do mundo visível e são portanto empiricamente
verificáveis. Em seu uso metafísico, por outro lado, a palavra "Deus"
refere-se a algo que excede a experiência. A palavra é deliberadamente
despojada de sua referência a um ser físico ou ser espiritual que é imanente no
[mundo] físico. E como não é dado um novo significado, ela torna-se sem
significado. Para ser exato, frequentemente parece que a palavra
"Deus" tem um significado mesmo na metafísica. Mas as definições que
são postas revelam-se, numa inspeção cuidadosa, pseudodefinições. Elas levam ou
a uma combinação logicamente ilegítima de palavras (trataremos disto mais
tarde) ou a outras palavras metafísicas (por exemplo, "base
primordial", "o absoluto", "o incondicionado", "o
autônomo", "o autodependente" etc), exceto no caso das condições
de verdade de suas sentenças elementares. (...)
O uso teológico da palavra "Deus" está entre seu
uso mitológico e metafísico. Não há significado distinto aqui, mas uma
oscilação entre um dos dois usos antes mencionados. Muitos teólogos possuem um
conceito claramente empírico (em nossa terminologia, "mitológico") de
Deus. Neste caso não há pseudo-enunciados; mas a desvantagem para o teólogo
está na circunstância de que, de acordo com esta interpretação de que os
enunciados da teologia são empíricos e, portanto estão sujeitos aos julgamentos
da ciência empírica. O uso linguístico de outros teólogos é claramente
metafísico. Além disso, outros não falam de forma definida, seja porque eles
agora seguem isto, este uso linguístico, seja porque eles se expressam em
termos cujo uso não é claramente classificável, pois tende em direção a ambos
lados."
Onde eu queria chegar com isso tudo:
Não é possível aceitar o critério de significado de Carnap e
ainda assim ter um posicionamento ateísta com relação a Deus ou a outros seres
metafísicos. Se o ateísmo for entendido como a falsidade da proposição
"Deus existe" então o ateísmo, de acordo com esse critério, não faz
sentido. Nem mesmo o teísmo e o agnosticismo fazem, se se entender por
agnosticismo a ausência de condições suficientes para corroborar ou para
refutar definitivamente a existência ou a inexistência de Deus.
Dizendo mais: com o critério de Carnap, tem-se um novo
posicionamento acerca da religião e da existência de Deus:
(V) Deus existe
(F) Deus existe
(?) Deus existe
e a nova posição:
"Deus existe" carece de significado e, portanto,
não pode ser verdadeira nem falsa. A questão da existência e da inexistência de
Deus não é uma questão genuína e "Onde não há questão, nem mesmo um ser
onisciente pode dar uma resposta."
(retirado do facebook)
E para quem eu dedico este breve esforço intelectual de expor um dos meus objetos de estudo?
(retirado do facebook)
E para quem eu dedico este breve esforço intelectual de expor um dos meus objetos de estudo?
Para o Nada.
E o que, quem, como, onde e porque o Nada?
Não há NADA mais frustrante na existência de um ser humano do que a indiferença e a incapacidade alheia de compreender e de reconhecer a importância daquilo que lhe é importante.
Por que cachorros? Por que números? Por que hambúrgueres? Por que leis? Por que células? Por que átomos, moléculas, fórmulas, vegetais, computadores, notas musicais, cédulas de dinheiro, farinhas de casca de banana e tintas para cartuchos de impressora? Por que nunca a filosofia?
O que ocorre com a filosofia? Nada? NADA?
O Nada existe apenas porque o Não, isto é, a Negação existe? Ou ele está de outra forma em volta? A Negação e o Não existem apenas porque o Nada existe? Afirmamos: O Nada é anterior ao Não e à Negação... Onde devemos procurar o Nada? Como descobrimos o Nada. Conhecemos o Nada. A antiguidade revela o Nada. Por causa disso e porque houve os antigos, havia 'realmente' – nada. De fato: o Nada em si mesmo – como tal – estava presente. O que ocorre com o Nada? – O Nada em si mesmo nadifica.
E a filosofia continua. Nadificando a existência dos vazios, incompreendidos, irreconhecíveis e injustiçados aspirantes à filosofia...
O Nada existe apenas porque o Não, isto é, a Negação existe? Ou ele está de outra forma em volta? A Negação e o Não existem apenas porque o Nada existe? Afirmamos: O Nada é anterior ao Não e à Negação... Onde devemos procurar o Nada? Como descobrimos o Nada. Conhecemos o Nada. A antiguidade revela o Nada. Por causa disso e porque houve os antigos, havia 'realmente' – nada. De fato: o Nada em si mesmo – como tal – estava presente. O que ocorre com o Nada? – O Nada em si mesmo nadifica.
E a filosofia continua. Nadificando a existência dos vazios, incompreendidos, irreconhecíveis e injustiçados aspirantes à filosofia...
(word atento à falha do nadifica)