terça-feira, 22 de março de 2011

Pensando sobre (e sob) alguns termos Humeanos

Poucos dias atrás estava lendo Hume, e confesso que me simpatizei com sua forma de escrever e com os seus pensamentos.
Hume é considerado um compatibilista: ele crê que a liberdade e a necessidade possam ser analisadas dentro do mesmo patamar. Elas são amiguinhas, passeiam juntas e andam até de mãos dadas...
Mas o que é necessidade e o que é liberdade?

Necessidade (alguns chamam de natureza), explicando em termos gerais, é o determinismo natural a que todos os seres humanos estão submetidos.
Vamos pensar da seguinte forma: um copo d'água de 200 ml é submetido a uma temperatura inferior a 0º celsius por um período x. Depois desse tempo, a água estará congelada.
Qual a causa da solidificação? Temperatura inferior a 0º por um período x.
Qual o efeito? A solidificação da água.
Se repetirmos o experimento acima ∞ vezes, sob as mesmas condições, o resultado será o mesmo, não é? Espero que ninguém discorde ou prove o contrário, o que seria pior...

De certa forma, as ações humanas não fogem desse padrão (se fugissem seria impossível o estudo das ciências h
umanas e sociais). Mas alguém poderia dizer: mas os homens não agem de forma igual sempre, há casos que sob as mesmas condições aparentes uma pessoa seria capaz de colocar fogo no mendigo que está deitado no banco, enquanto outra daria uma esmola ao coitado.

Claro, perfeitamente possível. E Hume explica: há peculiaridades que diferenciam os homens uns dos outros. Nós não somos robôs, que viemos da mesma fábrica, produzidos e programados da mesma forma para agir sob a condição 1 de forma x e sob a condição 2 de forma y. Onde se encontram essas peculiaridades? Ora bolas, no caráter. O que define o caráter?
Aaaaahhhh, esse é o ponto. Skinner, um psicólogo estadunidense, poderia dizer (ele não disse, não que eu saiba, mas flertaria com tal frase) que "o homem é fruto de seu meio". Você, que ia pra escola e ganhava uma estrelinha quando fazia a tarefa de casa. E uma bronca quando pegava o lápis do colega sem pedir emprestado...
Behaviorismo: os estímulos e as condições do meio (ou condições naturais) determinam o caráter (opa, eu li determinam?) do homem.
Perfeito. Vamos voltar então ao início do post e colocar pingos em alguns is.

Está escrito lá em cima: "Necessidade (...), é o determinismo natural a que todos os seres humanos estão submetidos."
Você pode estar pensando: é, mais lá em cima você falou que o Hume era compatibilista, que colocava a LIBERDADE e a NECESSIDADE no mesmo plano. Mas como eu posso ser livre, se minhas ações são determinadas pelo meu caráter (ou não), e meu caráter é determinado por estímulos do meio em que me encontro?

Ora, mas eu não sou livre. Olha só, sou oprimido pela sociedade, mal tenho dinheiro pra pagar minhas contas, o sistema é culpado pela minha desgraça.

Mas para Hume, você é livre. Porque Hume coloca a liberdade num posto menos elevado do que Kant, por exemplo. E o que é ser livre? Simples, se você faz o que você tem vontade de fazer, você é livre. Se você é coagido a agir de alguma forma, você não é livre.
Ah mas eu não sou livre pra comprar uma Ferrari nem pra morar nas Bahamas porque eu sou oprim...
Calma, há diferenças entre vontade e desejos, ou melhor, entre vontade e poder. Um indivíduo que pode escolher entre Ferrari, Porsche, Jaguar, BMW, é mais livre do que o que só pode escolher entre Chevrolet Celta, Volkswagen Gol, Ford Ka ou Fiat Uno?
Poder não determina liberdade, ou vice-versa.

Ainda sim, Hume está meio que, não sei se posso dizer, ferrado. Vejamos: minha vontade é determinada pelo meio. Se eu ajo conforme a minha vontade, minha ação é livre. Mas minha vontade não é livre.
Logo, se minha vontade é determinada pelo meio, minhas ações também o são.

Ufa, quantas voltas eu dei pra chegar nesse ponto.
E a questão fundamental aqui é a seguinte: como eu posso ser considerado responsável pelas minhas ações, se elas são frutos das determinações e estímulos que recebo do meio?
Deixo vocês pensarem a esse respeito, enquanto eu vou jogar PlayStation 2...

sábado, 19 de março de 2011

Sobre o novo blog e ruídos...

Seguindo alguns exemplos de pessoas próximas a mim que criaram blogs, resolvi seguir a tendência. A princípio, servirá apenas para exposição de ideias e pontos de vista sobre os mais diversos assuntos: música, religião, direito positivo, política, moral, futebol...
Não será uma espécie de muro de lamentações, não virei aqui expressar "o quanto eu sou excluído e desamparado pela sociedade". Claro que o mais próximo disso aconteceria se o Palmeiras perdesse alguma final de Libertadores, aí vocês poderiam se deparar com muitos mimimi, mas como faz tempo (11 anos) que isso não acontece, vocês, meus escassos leitores (se realmente forem plural) a princípio estão livres disso.

E pra não começar sem falar algo que presta, vou colar aqui um comentário inspirado que eu fiz depois de ver o vídeo "Gaiola das Cabeçudas".
O link é oque se segue: http://www.youtube.com/watch?v=NHinweAqbsA&feature=player_embedded

Também tenho ele nos favoritos do meu orkut, se for mais fácil.

Por que não começar expressando meu ódio profundo pelos sons imprestáveis, que só poluem o ambiente e enfiam merda na nossa cabeça, nos fazendo ficar repetindo o mesmo verso ou a mesma estrofe milhões de vezes seguidas? Atire a primeira pedra quem nunca cantou Créu, ou "Quer dançar? O tigrão vai te ensinar". É fato consumado que nos lembramos mais dessas letras infames do que de coisas que nos esforçamos para lembrar, como uma letra de Legião Urbana ou Engenheiros, por exemplo.
Abra-se um parentêse aqui. Sons imprestáveis são: funk, pagode, axé, emo, coloridos e sertanojo universitário. Embora haja quem considere o pagode / samba como uma expressão da nossa cultura, eu respeito mais o RAP, o sertanejo raíz e a MPB. Por motivos que ficam pra outro post.

Bom, aos que ainda não abriram o link do youtube, abram e assistam. Talvez vocês riam, é engraçado e eu ri, confesso.
E os comentários do meu orkut:

Se os pseudomúsicos¹ brasileiros conhecessem ao menos metade do que é dito nesta paródia, não seríamos obrigados a escutar um som tão deploravelmente indecoroso.

¹ Defina-se aqui por pseudomúsico não aquele que estudou música num conservatório, ou que sabe ler partituras, que compõe de forma harmoniosa, poética, crítica e ilustre e que admira letras imponentes. Pseudomúsico é todo aquele que não faz o que foi dito acima, e ainda estraga a fama de quem faz. É aquele que grita créu e faz sucesso, que faz festinha no apê e vai pro baile de sainha. São todos aqueles que envergonham o resto da humanidade (por sinal minoria) que ainda tem um pouco de sensatez e prudência.